O mês de janeiro de  2012 será marcado na história do nosso pais com mais  uma grande tragédia: o desabamento de tres prédios no coração do Rio de Janeiro. Quando eventos  catastróficos ocorrem, as pessoas, ainda que distantes, sentem um enorme pesar e  são incomodadas com questões relativas às “razões de acontecerem coisas ruins  perante os olhos de um Deus bom”. Diante disso, as reações das pessoas são as  mais diversas. Uns dizem que Deus não existe. Outros, que ele não ama de verdade  as pessoas e, por isso, não deve ser servido ou adorado. Há até quem, desejando  justificar o Senhor – como se ele necessitasse de advogados – diz que essas  infelicidades são ocorrências alheias ao divino controle. Seriam apenas más  sortes na esfera do acaso. Alguns desses “defensores” chegam a dizer, de modo  absurdamente antibíblico, que Deus nem sequer sabia que tais catástrofes  aconteceriam. Apesar da tolice  de tais afirmações, uma pergunta permanece: “Como os cristãos de verdade devem  se comportar diante de tragédias e situações de crise?”. O Salmo 39  ajuda a responder, do ponto de vista do servo desejoso de honrar a Deus, como  reagir quando o mundo parece desabar. O tema é tão importante para aqueles que  pertencem a Deus, que Davi, autor do salmo, dirigiu obra aos  cuidados de Jedutum, um dos homens responsáveis pelo louvor a Deus no  tabernáculo israelita (1Cr 25.1,3). Assim, o salmo seria repetidamente  cantado e serviria de testemunho a todos os que adoravam, no tabernáculo, o Deus  verdadeiro. A utilidade do salmo vem de ele apresentar quatro reações  necessárias ao servo de Deus em tempos de crise. A primeira reação  é abster-se de murmurar contra Deus. O salmo não revela a  situação específica de Davi, mas é claro em informar que não se tratava de um  problema qualquer. Davi atravessava uma grave crise. O vers.13 deixa  transparecer que ele corria risco iminente de morte, já que pede por livramento,  segundo diz, “antes que eu parta e já não exista”. Essa é uma situação onde é comum se ver discípulos do  Senhor sentirem-se no direito de murmurar até mesmo contra Deus. É como se tais  pessoas imaginassem que Deus, ao não evitar o mal, dá permissão para que se  digam absurdos, de modo irresponsável, sem que ele leve em conta. O salmista,  talvez conhecedor dessa tendência humana, tomou providências para não incorrer  nesse tipo de desvio. Ele se propõe o seguinte (vers.1): “Guardarei os  meus caminhos de pecar com a minha língua” . A tentação de falar o que era  indevido era tão grande que Davi usa uma palavra forte para dizer como evitaria  o mal. O verbo “guardar” , na forma do particípio, é o  termo usado para se referir a um guarda, uma sentinela, um vigia. Além de não  querer pecar contra Deus, o salmista também estava preocupado com seu testemunho  perante o mundo. Assim, quando põe freios na língua, o faz especialmente diante  dos incrédulos: “Que eu coloque uma mordaça na minha boca sempre que o ímpio  estiver na minha presença” . O interesse dos incrédulos não é, via de regra,  meditar sobre a atuação de Deus diante do sofrimento e analisar o ensino bíblico  que trata o assunto. Seu primeiro impulso é atacar o Senhor e justificar a  postura humana de rebeldia e de incredulidade em relação a Deus. Davi, ainda que  acometido pelo sofrimento, não queria injetar combustível na acusação pérfida  dos pecadores. Resumindo, o salmista não acha que a situação difícil que vive é  um passe livre para pecar falando coisas injustas, nem tampouco demonstrar 'ingratidão' por todo o bem que Deus já lhe tinha feito. A segunda reação  é reconhecer a transitoriedade do homem. Uma dificuldade que os  homens têm de atravessar as tragédias que os assolam é que eles, às vezes,  colocam nessa vida sua esperança e seus objetivos finais. Essa é uma  característica da vida de quem não tem a esperança da vida eterna. Contudo, os  próprios servos de Deus podem se esquecer de onde está seu verdadeiro tesouro  (Mt 6.19,20) e quanto tempo passarão na presença do Senhor na pátria  celestial (1Ts 4.17). Quando isso acontece, o mundo presente passa a  ser fator fundamental para dar sentido às suas vidas e ser fonte de felicidade.  É natural, para quem vê a vida sob esse prisma falho, que ela perca o sentido  quando as circunstâncias são dramáticas. O salmista parece não sofrer desse mal.  Diante do sofrimento, ele olha para o caráter passageiro dessa vida a fim de  aguçar sua esperança na vida futura. Diz ele ao Senhor (vers.5): “A minha  longevidade é como nada diante de ti. É certo que todo homem, incluindo aquele  que é firme, não é mais que um sopro” . Essa visão da fragilidade do homem e do breve  limite da vida faz com que o salmista não se surpreenda demais ao ver o  sofrimento ao seu redor e o faça esperar pelo alívio da vida com Deus (Apoc.  21.4). A terceira reação  é buscar a purificação da vida. Davi, ao olhar para seu  sofrimento, não acha que ele é uma má sorte de um curso cego. Ele sabe que Deus  é soberano e que comanda o rumo da vida de cada ser humano (Sl 139.16).  Sendo assim, o escritor vê, na sua situação, o propósito e a ação do Senhor,  visto que declara (vers.9): “Fico em silêncio e não abro minha boca, pois  tu fizeste isso”. A conclusão  a que Davi chega, conhecendo suas próprias ações, é que, entre os desígnios  insondáveis do soberano, está presente uma ação disciplinar. Portanto, sem  perder mais tempo, ele roga (vers.8): “Livra-me de todos os meus pecados”.
Isso não quer dizer que todo sofrimento da vida seja uma disciplina de Deus. Mas, certamente, cada um conhece seu próprio andar, e tem bases para avaliar o modo de Deus tratá-lo. De qualquer forma, o sofrimento é sempre uma oportunidade e um convite ao arrependimento e à conversão, já que o homem se depara com sua fraqueza diante do poder do Todo-poderoso que é santo. A última reação necessária ao servo de Deus que atravessa uma crise é dobrar-se em oração ao soberano. Essa reação pode parecer obvia, mas, em muitos casos, custa muito a ser efetivada. O homem, diante da crise, tem muito mais inclinação para a murmuração e para busca das próprias soluções do que a disposição de depender de Deus e orar pedindo alívio e direção. Muitas vezes, por arrogância e auto-suficiência do homem, essas atitudes tipicamente cristãs são aplicadas somente quando não há mais recursos. Davi não apresentou essa postura.
Ao ver o perigo se acercando dele, se curvou diante de Deus e pediu (vers.12): “Ouve a minha oração, ó Senhor, e dá ouvidos à minha súplica”. Independente das circunstâncias, Deus sempre quer que seus servos levem a Ele suas petições e lhe apresentem, com atitude de submissão, seus sofrimentos e tristezas (Fp 4.6) – principalmente em momentos como esse.
As notícias de tragédias continuarão a ocupar os noticiários nos meios de comunicação. Por mais que a humanidade desenvolva novas tecnologias de previsão e de prevenção de catástrofes, é certo que ainda veremos muito sofrimento acometer a humanidade. Nessas horas, em lugar de tentar definir o que se não pode esquadrinhar (Rm 11.33-35), a igreja de Cristo deve se portar como um servo de um bom rei, e não como um cliente mal atendido de um restaurante. Os discípulos de Cristo, em lugar de questionar a sabedoria e a bondade do Senhor, devem aproveitar para divulgar a mensagem da cruz de Cristo ao mundo perdido. Devem, também, deixar de rebaixar o Senhor a um espectador impotente diante dos eventos do mundo com a finalidade de protegê-lo de críticas. Em lugar disso, devem proclamar sua soberania, pela qual Ele guiará a história da humanidade até o “Dia do Senhor”.
Devem os servos de Deus, em todo momento, testemunhar que o  Senhor, em lugar de produzir um céu na Terra, ou as bênçãos do futuro no tempo  presente, é Aquele que, em “verdadeiro amor”, enviou seu Filho para dar a vida  pelos pecadores (Jo 3.16; 1Jo 4.10) a fim de conduzi-os à eterna pátria  onde nada mais os abalará.
Luiza Valle FFaria




